Yuri Gagarin<br><i>Sonhar com o bem dos homens</i>
«Poderei eu alguma vez esquecer o Sol, fonte da vida do nosso planeta, exuberante, de um branco azulado, completamente diferente da sua imagem observável desde a Terra? Os que o viram tal como ele é são ainda pouco numerosos. De todas as maneiras, estou certo de que muitos o verão, dezenas, centenas de terrestres, homens de todas as profissões e cidadãos de todos os países. Procurando decifrar os mistérios do Universo, eles sonharão com o bem dos homens.» Estas palavras de Yuri Gagarin, por ocasião do cinquentenário da Revolução de Outubro, são reveladoras do profundo humanismo que segundo todos os testemunhos caracterizava o jovem cosmonauta soviético que a 12 de Abril de 1961 entrou na História como o primeiro homem a viajar no espaço.
A atracção pelo espaço revelou-se em meados da década de 50, quando Gagarin começa a frequentar um clube de aviação, onde realiza o seu primeiro voo a solo; concluída a formação técnica, entra para a Força Aérea Soviética e para a Escola de Aviação Orenburg. Em 1959, com 25 anos, o então jovem piloto de caça candidata-se a fazer parte da equipa de cosmonautas; é um dos 20 seleccionados que no ano seguinte são submetidos a cursos intensivos e treinos exigentes, e um dos seis pré-seleccionados para a preparação do primeiro voo tripulado. No final, é um dos dois melhores qualificados, acabando por ser o escolhido para ocupar a Vostok-1, a nave lançada do Cosmódromo de Baikonur que dá uma volta em órbita da Terra, a 315 km de altitude, durante uma hora e 48 minutos.
Há quem diga que a escolha de Gagarin se deveu à sua modesta origem camponesa, o que favorecia a «propaganda» da URSS. Fraco argumento, que não desmentindo o facto de na sociedade socialista todos terem igualdade de oportunidades independente da origem de classe, subestima as qualidades de Gagarin reconhecidas pelos próprios camaradas de curso, desde a sua preparação à contagiante simpatia, passando pela franqueza, boa disposição e permanente disponibilidade para os outros. No final de contas, é provável que o factor (talvez determinante) para a escolha entre dois jovens cosmonautas igualmente preparados para a função tenha sido bem mais prosaico: a baixa estatura de Gagarin (1,58m), apropriada ao tamanho da cápsula!
O regresso de Gagarin à Terra foi atribulado: «Isto valsava: cabeça, pés, cabeça, pés, a uma velocidade de rotações considerável. Ora via África, ora a linha do horizonte, ora o céu. Mal tive tempo de me proteger do sol para evitar que ele me batesse nos olhos... A separação não se fazia... ao fim de dois minutos nada: não havia separação... Decidi que a situação não era urgente e transmiti o código VNA4, para Tudo vai bem...». A separação ocorreu quando a Vostok sobrevoava o Mediterrâneo e a partir daí tudo correu como previsto, excepto o sítio onde chegou de paraquedas, depois de se ejectar... Foi recuperado em Saratov, a mais de 300 km de distância do ponto previsto, tendo como único comité de recepção Anna Takhtarova, uma habitante local.
Com o voo de Gagarin, a União Soviética confirmou seu pioneirismo no espaço: em 1957 tinha lançado o primeiro satélite artificial, o Sputnik; no mesmo ano colocou em órbita o primeiro ser vivo: a cadela Laika; e antes da Vostok-1 efectuou dois voos não tripulados (Korabl-Sputnik-4 e Korabl-Sputnik-5).
Mais tarde, falando da sua experiência, Gagarin escreveu: «Constantin Tsiolkovski, sábio dotado de um poder de previsão extraordinário, disse que os homens acabariam por conquistar todo o espaço à volta do Sol. Apercebo-me que esta obra exigirá o esforço de numerosas gerações, desenvolvendo-se em consonância com o ritmo do progresso científico e técnico. Se os homens progressistas unirem os seus esforços, estou convencido de que a Humanidade construirá os primeiros degraus que conduzirão ao Espaço, talvez a Marte. Esta domesticação do Cosmos, realizada num clima de amizade, trará vantagens infinitas também segundo o plano puramente terrestre, por exemplo, em matéria de controlo do clima.»
O herói da União Soviética e mundial não viveu o tempo necessário para ver o que as suas palavras preconizavam. Morreu num voo de treino em 1968, causando consternação em todo o mundo, que continua a recordar o seu feito e o seu incontornável sorriso. Em sua honra, em Abril de 2011, a Assembleia Geral da ONU proclamou o 12 de Abril como o Dia Internacional do voo espacial habitado.